A educação era considerada como um aparelho do Estado, com a função principal do ensino da moral e da obediência, sendo tudo normalizado pelo Estado. As matérias eram escolhidas e organizadas pelo Estado. Os professores, eram principalmente mulheres, mal pagas, e sem grandes competências, tinham que ser dóceis, submissas e conservadoras. Os alunos eram vistos como um instrumento manipulador, não se incentivando o conhecimento nem a criatividade. A relação entre professor e aluno era baseada no autoritarismo, numa relação de comunicação unilateral entre emissor/receptor.
A partir da década de 50, com o fim da II Guerra Mundial e o desenvolvimento da industrialização, as pessoas começaram a mover-se para as cidades, modificando o paradigma social inicial, para o da sociedade industrializada, e o da educação assente no novo paradigma racional. Esta é a era da Modernidade, do desenvolvimento tecnológico e da economia baseada no aumento da produção e do consumo. A escolaridade começou a ser vista como um factor de produção de capital humano, pois formava uma mão-de-obra especializada, com alguma qualificação para o trabalho nas fábricas, Por serem qualificados têm mais poder de compra, estimulando o consumo, que por sua vez necessita de mais produção, traduzindo-se no crescimento económico. A democratização da escolaridade assenta numa massificação da escolaridade, que permite a igualdade de acesso a todos, gratuita, com vista a reduzir a taxa de analfabetização e as desigualdades sociais. A educação centra-se no desenvolvimento da cidadania, determinando quais as atitudes sociais, cívicas e judiciais que as pessoas devem seguir, conforme directrizes do Estado, representativo do povo (democracia representativa). A educação estipula a uniformidade da transmissão dos conhecimentos, dos pensamentos, do saber-fazer, da explicação do real através do método científico, que separa os conhecimentos das várias disciplinas, isolando tudo o que pode ser explicado e quantificado, não havendo lugar ao imprevisto e ao erro – Principio da Redução de E.Morin. A educação utiliza uma pedagogia mecanicista, muito estruturada; o professor continua a ser o centro de todo o conhecimento e tem a responsabilidade de transmissão desse conhecimento e dos valores da sociedade, sendo responsável também pela motivação e atenção dos alunos. Tem a seu cargo a organização, administração e avaliação, das aulas, dos comportamentos, dos recursos necessários e do julgamento dos conhecimentos adquiridos. Aumentam as relações interpessoais entre o professor, os alunos e entre estes, favorecendo a comunicação bilateral e incentiva-se o feedback, através da participação dos alunos. (Correia & Dias, 1998).
Este paradigma educacional durou até finais do sec. XX, onde se começa a verificar uma crise de orientações, definições e comportamentos. Assim no começo do sec. XXI assiste-se a uma alteração das formas de pensamento, de atitudes e valores sociais, originado pelo desenvolvimento da tecnologia da informação e do conhecimento, com a crescente importância dos mass media, aumentando a rapidez da transmissão do conhecimento a nível global, mas provocando um isolamento e um afastamento das relações interpessoais, conduzindo a uma desumanização. Nesta nova era pós-modernidade, estamos a viver um novo paradigma da sociedade do conhecimento, ligado ao dualismo em oposição ao unitarismo. Segundo Tedesco (1999) assiste-se a uma revolução global que afecta o modo de produção, mais especializados, mais flexível e ciclos de vida dos produtos mais curtos; valorizam-se as competências e flexibilidades dos trabalhadores, o trabalho em equipa e por objectivos. Afecta o modo de comunicação, alterando a noção espacial sem barreiras físicas e a noção temporal, sem dia e noite, pois a informação passa a estar constantemente disponível. Houve alterações também na própria democracia, passando de representativa para participativa, com uma prática de cidadania mais activa e global. A educação assenta nos princípios do paradigma Humanista, adaptando o desenvolvimento da cidadania e a igualdade de oportunidades do anterior paradigma, mas centra-se no desenvolvimento pessoal, promove a criatividade estética, a aprendizagem personalizada, a reflexão espiritual e moral. Vira-se para o saber-ser e não para o saber-fazer e valoriza-se a aprendizagem ao longo da vida e a autoformação. Os professores são meramente orientadores, motivadores e não detentores do conhecimento. Estas alterações têm o seu espelho no artº3 do DL-49/2005, conforme excerto fornecido. Com o excesso da informação e com a forma de aprendizagem anteriormente utilizada, na separação dos conhecimentos, Morin (2002) afirma que existe uma falta de percepção da realidade, pois o conhecimento está disperso, desunido, provocando uma desresponsabilização e falta de solidariedade e compreensão dos indivíduos, havendo uma antinomia entre o conhecimento e a realidade global. È necessário ter um conhecimento pertinente, desenvolvendo aptidões que despertem a curiosidade e a inteligência geral, sabendo situar o contexto das coisas, a nível global, tendo em conta as suas multidimensões e complexidades. È necessário ter em conta os “4 Pilares da Educação” de Delors (1996): i) aprender a conhecer-se a si próprio e ao mundo, com pensamento crítico, raciocínio e dedução lógicos e selectividade da informação; ii) aprender a fazer através de um desenvolvimento das competências e aptidões e relacionamentos interpessoais; iii) aprender a conviver e compreender o outro através do conhecimento do próprio “eu”, tomando consciência das diferenças e reacções de forma a diminuir os confrontos; iv) aprender a ser indivíduos com poder de decisão de acção, desenvolver a liberdade de pensamento, raciocínio, discernimento, criatividade, sentimentos e imaginação. A educação tem assim um papel importante a tentar humanizar a humanidade e a adaptar-se a um mundo em mudança.
Bibliografia:
- Correia, A.P.S.; Dias, P.(1998) – Revista Portuguesa de Educação, p.113-122 - “A Evolução dos Paradigmas Educacionais à Luz das Teorias Curriculares” http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/490/1/AnaPaulaSousa.pdf
- Vicêncio,A.,et al (2003/2004), UNL-FCT – “A participação dos Actores Educativos” - http://pessoa.fct.unl.pt/amv10999/interesses/AGE/AGE.pdf
- Sousa, J.M. (2000,p.83,84) – “O Tempo do Estado Novo” - http://www3.uma.pt/jesussousa/DocumentosFormCompProf_ficheiros/5.O%20Tempo%20do%20Estado%20Novo.pdf
Mónica, M.F.(Análise Social,vol XIII(50),1977-2º,321-353) – “Deve-se ensinar o povo a ler?”,http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223915576N2uIW7kz6Wc55GA7.pdf
- Tedesco, J. C. (1999) – “O Novo Pacto Educativo: Educação, Competitividade e Cidadania na Sociedade Moderna”
- Delors, J. (1996) – “Educação um Tesouro a Descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o Séc. XXI”
- Morin, E. (2002)- “Os Sete Saberes para a Educação do Futuro”
10/11/2010